Você já ouviu falar em "desconfiômetro"? Não se trata de um aparelho. Diz-se que determinada pessoa está com o "desconfiômetro quebrado" quando se percebe uma pessoa tem um comportamento inconveniente e reduzido bom senso. É aquela pessoa sem noção, insensível com outros, infeliz nas atitudes, chata em seus comentários inadequados e no seu excesso de humor.
Todos nós estamos sujeitos a cometer um deslize, mas quando cada um cuida da medida do próprio bom senso e liga o seu "desconfiômetro" para monitorar suas atitudes e perceber se não está extrapolando, na verdade está aprendendo a conviver em sociedade.
Bom senso e respeito pelos outros
Antropologia é a ciência da observação, que tem como foco o estudo das pessoas em sociedade, as culturas humanas, os comportamentos e seus costumes sociais. Ter bom senso não significa ter medo de manifestar o que se pensa pelo receio de cometer uma gafe. Mais do que isso, é cultivar a sensibilidade para perceber como melhor se portar diante das mais variadas situações que vida impõe a todo ser humano.
Para ter relacionamento saudável e conviver bem com as pessoas é preciso discernimento e autopercepção, não deixando que a própria conduta ultrapasse os limites alheios. Há comportamentos e coisas que as pessoas fazem ou deixam de fazer, que causam desconforto nos demais, seja na convivência em casa, nos lugares públicos ou no trabalho. Sem aperceber dessas pequenas coisas, pode-se minar a própria imagem e comprometer o relacionamento com outras pessoas.
Relacionamentos pautados pelo egoísmo, ausência de respeito pelos outros e atitudes pouco corteses costumam dar vazão a conflitos e acabam prejudicando a boa convivência. Todos nós temos os nossos limites pessoais e não gostamos de ver o nosso espaço sendo invadido pelos outros. Quem usa, abusa e manipula os outros precisa de tratamento urgente.
Há um distúrbio psicológico chamado Psicopatia, que é caracterizado pelo desprezo das normas sociais e indiferença aos direitos e sentimentos dos outros. Esse é o típico comportamento que pode ser observado nas pessoas muito "espaçosas", que vivem histericamente no automático, o que impede de terem serenidade para observar como estão funcionando socialmente.
Gente espaçosa demais
Invadir espaço alheio: Ela se esconde atrás de uma máscara e invadir o espaço alheio é a sua marca. Ela vai além dos seus limites espaciais, mexe e pega as coisas dos outros sem permissão e acha que, por conviver em um mesmo espaço, tem o direito de invadir a privacidade dos outros.
Pedir emprestado: Outra forma velada de invasão é o costume irritante de pedir emprestado: pede uma xícara de açucar, pede uma roupa emprestada, pede a sombrinha emprestada, pede dinheiro emprestado, pede o carro emprestado, pede carona todos os dias, pede tudo que vê. E dê graças a Deus se o objeto emprestado for devolvido, pois a maioria desse tipo de pessoas nunca devolve.
"Fila bóia": E por julgar no direito de dominar o espaço dos outros, a pessoa espaçosa é do tipo que chega em sua casa para o almoço sem convite e sem avisar. Aproveitando a hospitalidade, ela usa o banheiro e não dá descarga. Liga a sua televisão e "aluga" o seu sofá. Mas a folga não pára por aí.
"Sem noção": Ela deixa as horas correrem e depois diz que é muito tarde para voltar para casa. Aí pede para passar a noite em sua casa e naturalmente pede uma toalha para tomar banho. Ela deixa seu banheiro arruinado e a toalha molhada em qualquer lugar. Dorme em sua casa até o meio-dia e ainda aproveita para "filar" mais um almoço antes de ir embora. E dê graças a Deus se ela não resolver passar uma temporada na sua casa.
Exploradora: Aliás, esse é o tipo de pessoa que adora se hospedar gratuitamente na casa dos outros por vários dias. Se for preciso, ela inventa as histórias mais hilariantes possíveis. E, se você bobear, ela traz uma mala cheia com roupas sujas que ela guardou durante mais de seis meses para a sua empregada lavar. E aí vai ficando... vai ficando... até morar definitivamente na sua casa e sem pagar nada.
Inconveniente: Se você tiver uma piscina, ela vai querer transformar sua casa num clube para passar todos os finais de semana e ainda trazer amigos. Se tiver árvores frutíferas, ela e seus amigos vão comer todas as frutas até as folhas. Porque esse é o tipo de pessoa que se julga no direito de tudo, inclusive de chegar em qualquer festa, churrasco e onde tiver uma reunião de pessoas, sem convite e sem pedir licença.
Gosta de aparecer: Além de tudo, é do tipo que costuma dar gritinhos histéricos sem nenhum motivo e gosta de falar alto para chamar atenção sobre si. Em qualquer lugar ela se vê num palanque fazendo discurso, sem perceber que atrapalha a conversa ou a concentração dos outros. Devido à imaturidade, ela acha que pode falar alto quando atende o celular e até ouvir suas musiquinhas cafonas dentro do ônibus, na fila do banco etc.
Sem noção de ridículo: E, por não ter noção de ridículo, ela acha tudo engraçado e não perde uma oportunidade para colocar em ação a sua mania de contar piadas, mesmo que o momento seja impróprio. Faz piadinhas, critica, ironiza a roupa dos outros e põe apelido em todo mundo. Esse é seu modo de ser em qualquer lugar, seja no ambiente familiar, no trabalho, num velório ou num ponto de ônibus.
Maledicente: Por ter a língua grande demais, essa pessoa faz comentários maldosos sobre todo mundo. Fala mal dos vizinhos, da família, da empresa, do chefe, da secretária, dos colegas e quem mais ela colocar no seu foco. Ela tem uma opinião sobre tudo e sobre todos. Para ela, todos tem qualidades negativas e se considera a única pessoa séria, ética e responsável.
Folgada: No trabalho ela nem percebe que incomoda seus colegas quando pega a caneta, o grampeador, os papeis da impressora, usa o computador sem permissão e joga suas tarefas encima dos outros. E não é tudo. No cafezinho da empresa todos jogam seus copinhos no lixo, mas ela não. Ela deixa tudo jogado em qualquer lugar, talvez por achar que alguém tem obrigação de limpar a sujeira que ela deixa para trás, incluindo o banheiro coletivo da empresa que ela usa e transforma num caos.
Gosta de levar vantagem em tudo: Esse tipo de pessoa também não se preocupa em criar contrangimentos para os outros. Se for convidada para ir a um restaurante, ela pede o prato mais caro, o vinho e a sobremesa. Sair junto com ela numa balada é um grande prejuízo. Tendo alguém pagando, ela bebe o bar inteiro e na lanchonete pede o maior sanduiche que tiver e tudo mais que aguentar consumir. É o tipo de pessoa que não quer perder nada; só quer explorar os outros e levar vantagem. Quem nunca conheceu alguém assim?
Sem educação: Se tem carro, ela faz das ruas o seu parque de diversões: buzina constantemente, ocupa duas pistas ao mesmo tempo, estaciona na calçada e invade a faixa dos pedestres. Se mora num prédio, não respeita as vagas da garagem, perturba o vizinho do andar de baixo fazendo barulho a qualquer hora, limpa as janelas do apartamento jogando água e nem se preocupa em molhar as janelas dos andares mais baixos e as pessoas que estão passando na rua... Nos lugares públicos, ela cospe e joga lixo no chão, espirra, arrota e solta seu "pum" em qualquer lugar.
Coloque limites
Há inúmeras situações e boa parte do comportamento dessas pessoas "espaçosas" resulta da criação que elas receberam; não aprenderam a respeitar limites. Mas não se pode culpar os pais, pois também resulta da influência do meio em que convivem e da própria personalidade.
Essas pessoas não vêem fronteiras para sua ações, sendo uma forma de se sentirem livres e até de não precisarem lidar com a aceitação dos outros. Psicopatas são movidos pelo egocentrismo, pensam somente nas próprias vontades e acham que o mundo deve girar em redor de si.
Conviver com pessoas sem limites é, no mínimo, embaraçoso. Mas ao invés de ficarmos nos roendo de raiva ao sermos espremidos por uma dessas pessoas sem-noção, o mais certo é tomar uma atitude. Mudar o nosso estilo de ser é a receita certa para não acabarmos sucumbindo aos abusos dessas pessoas. Quando não podemos evitá-las, o jeito é não dar-lhes abertura. Quando se tenta aceitá-las e agradá-las demais, abre-se um espaço para que elas possam se espalhar.
Quem não sabe dizer: “Me dê licença", "Por favor", "Obrigado" e não pede desculpas por suas gafes e desatinos, ainda que tenha concluído um curso de pós graduação precisaria voltar no tempo e frequentar uma pré-escola. É na infância que aprendemos a ser bem educados. E quem acha que não precisa se subordinar a essas "bobagens" de etiqueta, deveria viver numa estrebaria. Talvez convivendo com os coices de outros animais aprendesse a respeitar os limites dos outros...