segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A arte japonesa de presentear




 
 
No Japão, o ato de presentear envolve um rigoroso ritual. Diz-se que dar um presente é como abraçar o coração de alguém, por isso, o conteúdo vem sempre embrulhado com fina decoração e deve ser bem respeitada, pois faz parte do presente.
 
O papel deve ser embrulhado de maneira delicada e consciente. Os japoneses levam tão a sério essa filosofia que desenvolveram técnicas de embrulho de objetos que ultrapassam a finalidade principal: proteger o conteúdo contra impurezas e agressões exteriores.

De alimentos a presentes, tudo é muito bem embalado, seja para facilitar o transporte e acondicionamento dos objetos, seja para demonstrar a afeição e atenção da pessoa àquele que vai receber o presente.
 
A palavra japonesa tsutsumu quer dizer embalar e exerce um papel importante em uma série de aspectos culturais e religiosos do cotidiano japonês. Acredita-se que tsutsumu é derivado do verbo tsutsushimu, que significa ser discreto e moderado, uma característica inata ao povo japonês e também sinônimo de refinamento.

Existe um método denominado origata, que possui uma série de regras que determinam o tipo de embalagem. Segundo a
etiqueta japonesa, é indelicado dar um presente mais exuberante que o indicado pela ocasião, pois a pessoa se sentirá na obrigação de retribuir à altura.
 
Antigamente, os presentes eram embrulhados em washi, papel branco tipicamente japonês, pois essa é a cor dos deuses e, portanto, livre de qualquer contaminação.  Existem no Japão vários tipos de papéis, com denominações e finalidades específicas. As cores variam de acordo com a estação do ano.
 
Papéis decorados com sumi-ê vieram para o Ocidente juntamente com presentes e acabaram servindo de inspiração para pintores como Van Gogh e Monet. O noshi, um tipo de molusco esticado e seco, era dado juntamente com o presente. Hoje, ele foi substituído por apenas uma figura, geralmente impressa no alto, no canto direito do papel, mas que ainda tem grande importância nas embalagens.


Alguns pacotes são envoltos em finas cordas de papel chamadas Mizuhiki. Geralmente possuem cinco fios, mas o número pode variar. As cores do mizuhiki, que aparecem sempre em pares, têm grande significado. Para felicitações ou situações comuns, cordas vermelho-brancas e o vermelho deve ficar à direita ou dourado-vermelhas. Dourado-prateadas são usadas apenas para casamentos, com o dourado à direita.
 
Para presentes de condolências, cordões preto-e-brancos, azul-e-brancos ou somente brancos são usados, com a parte mais escura à direita. O nó memusubi ou nó borboleta é utilizado para quase todas as ocasiões, mas para noivados, casamentos e funerais é usado o Musubiriki, o nó liso, que não pode ser desfeito. A intenção é desejar que essa ocasião seja única e não se repita.

No espaço acima do nó formado pelo Mizuhiki, é escrito o propósito do presente e abaixo o nome do doador. Kotobuki
(alegria), go-reizen (para o espírito do falecido), jô (para alguém mais velho), orei (agradecimento), omimai (após a recuperação de alguma doença), osembetsu (despedida) e so-shina (lembrancinha) são os mais usados.
 
 
 
Quando se trata de um presente em dinheiro, a quantia costuma ser especificada no verso do envelope. É um costume japonês. O nome de quem recebe pode ser omitido, mas o propósito deve ser escrito no alto à esquerda. 
Além da embalagem os japoneses mais tradicionais costumam envolver os presentes em um lenço de buclê de seda chamado Furoshiki. No passado o lenço costumava ser devolvido embrulhado em dois pedaços de papel branco. Hoje já existem lenços com tecidos mais baratos, que dispensam a devolução.

Em todos os casos um  presente nunca deve ser aberto na mesma hora em que se recebe. Segundo os costumes japoneses, tal atitude demonstra maior interesse no valor material do presente que no ato de presentear. É de bom gosto enviar um cartão ou dar um telefonema de agradecimento posteriormente.

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